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Pecuarista que não diferenciava touro e vaca vira referência na engorda de boi em MS

“Eu não diferenciava nem o sexo dos bovinos”, admitiu com bom humor a pecuarista Jussara Negrão, titular da Agropecuária Cedron, hoje uma referência na engorda de animais superprecoces localizada na região de Anastácio-MS. A história de superação e determinação da empresária rural foi destaque do Giro do Boi desta terça, dia 02, em entrevista com a própria produtora.

Jussara recordou a história da fazenda que se transformou na Agropecuária Cedron e as condições adversas com as quais assumiu a propriedade. “A Fazenda Cedron é originária da família Dias Negrão, na qual hoje eu pertenço à terceira geração. A história dela começou com o seo Luiz Dias Negrão. Ele era um paulistano que tinha um cafezal no estado de São Paulo, em Iacanga, e trocou esse cafezal por umas terras em Anastácio, em Mato Grosso do Sul. E ele trabalhou nessa terra até 1978, na ocasião de seu falecimento. Ele tinha três filhos e um dos filhos já trabalhava com ele, que era o Igor Dias Negrão, casado com a Dorcas Dias Negrão. Esse casal trabalhou até 1998 na propriedade e teve um filho. Nessa época, eu já era casada com o Fernando, filho único do casal, e ele administrou a fazenda até 2001. E de uma maneira muito precoce, pela vontade de Deus, ele foi recolhido. E coube a mim administrar essa fazenda, que já tinha uma história de quase 90 anos na família, e estamos trabalhando até os dias atuais”, disse.


Imagem aérea da Agropecuária Cedron, em Anastácio-MS: referência em produtividade na pecuária.

Surpreendida pela morte precoce do marido, Jussara contou com sua paixão pelos animais como ponto de partido para assumir os negócios na fazenda. “Amor aos animais, sempre. Eu sou uma ‘cachorreira’ assumida já!”, brincou.

“Eu gosto muito de animais. Entretanto, a paixão pela bovinocultura surgiu pela necessidade da lida porque até então, quando eu entrei na administração da Fazenda Cedron em 2001, era um território desconhecido para mim. Eu não diferenciava nem o sexo dos bovinos”, recordou. “Então quando eu comecei a trabalhar com bovinocultura, essa paixão brotou das dificuldades, do mergulho no conhecimento. Hoje eu posso declarar que a atividade não é só meu sustento, é minha paixão. Hoje eu não me vejo em um ambiente diferente em que a bovinocultura não está no contexto”, valorizou.

Apesar do pouco conhecimento sobre a pecuária de corte, a formação acadêmica em ciências contábeis trouxe uma outra visão da pecuarista a respeito do futuro da fazenda. “Sem dúvida nenhuma, ajudou. Eu sempre fui uma pessoa muito metódica, ainda mais quando se tratava de números. Então quando eu adentrei na propriedade, naturalmente minha missão foi enxergar ela como uma empresa para facilitar a administração. […] Eu ilustrei ela como uma empresa e hoje nós já efetivamos essa pessoa jurídica. Hoje a fazenda é a Agropecuária Cedron LTDA. Mas, na época eu transformei ela em uma empresa dentro da minha cabeça: eu era uma mera gerente remunerada e toda a remuneração da propriedade retornava para aplicação em investimentos, enfim, para poder fazer com que ela se estruturasse para o futuro com uma renda melhor”, esclareceu Jussara.

“Com certeza foram anos de sacrifícios, sem férias, tirando o mínimo para custear as despesas particulares, mas acho que foi com essa estratégia que eu consegui transformar um sistema produtivo tradicional para uma fazenda mais estruturada e tecnificada”, sustentou.

A empresária comentou as principais dificuldades que teve ao longo do percurso até se tornar uma referência na pecuária de corte. “Como o Fernando (seu falecido esposo) era filho único, eu não me interessei muito no negócio porque eu acreditava que ele teria uma vida longa e eu estava dentro da minha zona de conforto. E aí, de repente, eu me vi num negócio sem ter noção, sem preparo. Mas eu tinha plena consciência de que eu precisava com urgência mudar isso porque era um patrimônio familiar e precisava administrar. Era um bem que já passava para a terceira geração da família, então jamais me passou pela cabeça vender ou arrendar. Eu precisava continuar com o trabalho, com a história. Não poderia parar”, relatou.

“Foi muito difícil, mas não foi pelo fato de eu ser mulher. A minha dificuldade se originou pelo fato de eu não conhecer administração rural. Mas eu sempre fui muito participativa. Desde quando eu adentrei na administração da fazenda, no meio rural, eu faço parte até hoje de diretoria de sindicato, participei da diretoria da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce”, completou.

Jussara elencou as principais mudanças que promoveu na fazenda ao longo de sua gestão. “A fazenda vinha de uma administração tradicional, o que na época era muito comum, sem muita tecnologia. Eram invernadas grandes, as aguadas eram todas de açude, a estação de monta durava o ano inteiro. Era aquela época que quando a gente precisava de dinheiro, vendia bezerro. Então, com a minha experiência de números, eu percebi que a cereja do bolo – o bezerro – era vendida. Então eu comecei a modificar a estrutura da fazenda”, revelou.

“Aquelas grandes invernadas foram todas subdivididas. Hoje a minha invernada maior tem 50 hectares. Eu canalizei água pela fazenda inteira, que foi a introdução da água limpa, o que eu acho que é muito importante. Fiz muita reforma de pasto, comecei a me estruturar para ter volumoso na época da entressafra de pastagem, estruturei depois os protocolos sanitários, institui o descarte dos animais improdutivos, porque era comum todo animal ser de estimação. Mas a gente foi classificando essa categoria como improdutiva e fomos descartando. Então, como contadora, eu percebi que precisava melhorar a remuneração em relação ao capital investido”, exaltou.

No processo de intensificação da fazenda, a introdução da engorda em cocho foi um caminho natural, assim como o uso de gado cruzado para aproveitar mais a dieta mais energética. “Nós começamos a fazer confinamento em 2009. Em 2009 nós começamos um trabalho muito bacana, mas de forma muito tímida ainda, a gente trabalhava só com Nelore. Era tudo muito novo. E aí começamos a introduzir mesmo o cruzamento industrial em 2011. Também começamos com um projeto bastante tímido porque aonde a gente não pisava firme, tinha que ir devagar mesmo. Na época, eu me recordo que a gente usava cruzamento industria na IATF em 20% das matrizes e o restante a gente passava com Nelore. Hoje eu passo 100% das matrizes com cruzamento industrial na inseminação artificial, faço o resync e depois nós repassamos com touro Nelore”, frisou.


Confinamento na Agropecuária Cedron: uma evolução natural fruto do processo de intensificação.

Atualmente a fazenda estuda a melhor fórmula para a integração de seus sistema produtivo com a agricultura. “A ILP, na minha região, que é uma região pantaneira, é muito difícil porque as temperaturas nossas são muito altas, temos bastante veranicos. Mas eu não tenho dúvida nenhuma de que a integração possibilita uma renda extraordinária para o produtor. A gente gosta de promover mudanças, eu já plantei soja por três anos consecutivos, mas hoje nós optamos por plantar o milho na safra e, na entressafra, nós plantamos o capim, que vira silagem para o confinamento”, contou.

Os esforços da produtora rural renderam os melhores frutos que a pecuária de corte pode colher atualmente em termos de aproveitamento da carcaça do boi. “Quando nós começamos a nossa história de cruzamento industrial, o meu propósito maior era abater animais com 24 meses. Abatendo animais de dois dentes eu já estava feliz, já que a gente não abatia. […] Nessa evolução de a gente conseguir engordar animais extremamente jovens, superprecoces, nós abatemos hoje fêmeas a partir de dez meses com 12 arrobas ou mais e os machos nós estamos abatendo com 14 meses com uma média de 16 arrobas ou mais”, celebrou Jussara.

“Nós estamos na lida. Eu me sinto muito feliz pelo espaço conquistado, principalmente porque a gente está contribuindo para um setor tão fundamental da economia, que é o agronegócio”, concluiu.

Fonte: Giro do Boi | Fotos: Divulgação

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